terça-feira, 10 de maio de 2011

Cansei de quem gosta como se gostar fosse mais uma ferramenta de marketing. Gostar aos poucos, gostar analisando, gostar duas vezes por semana, gostar até as 23:00. Cansei de gente que gosta como pensa que é certo gostar. Gostar é essa besta desenfreada mesmo e não tem pensar. Arrepia o corpo inteiro, você não sabe se é defesa para recuar ou atacar. E eu acho que gosto de você porque gostar não faz sentido.
Eu quero que você sinta esse prazer que chega aos poucos e mata tudo que há em volta, e explode os relógios. E chega aos poucos ainda que você não saiba nem quem é pouco e nem quem é lento. Porque você morre. Se você prefere a vida quando se morre um pouco por alguém, permita-se.
Não quero ir embora e esperar o dia seguinte. Cansei dessa gente que manda ter mais calma e diz que existe sempre outro dia, gente que diz que não posso esperar nada de ninguém, que preciso de uma camisa de força.
Se você puder sofrer comigo a loucura que é estar vivo, se puder passar a noite em claro comigo de tanta vontade de viver esse dia sem esperar outro, se puder esquecer a camisa de força e me enroscar no seu corpo para que duas forças loucas tragam algum equilíbrio e se puder enfim, ser alguém de quem se espera algo(afinal, é uma grande mentira viver sozinho), permita-se. Mas então eu decidi me permitir. Disse pra mim. Silêncio, nenhum pio. Não vou falar nada. Já que sou tão imprópria, inadequada, chata, boba. Já que nunca basto e se tento me excedo. Já que não sei o que deveria ou exagero em querer saber o que não devo. Nunca entendo exatamente, nunca chego lá, nunca sou verdadeiramente aceita pela exigência propositalmente inalcançavél.Meu riso incomoda. Meu choro mais ainda. Minha ajuda é pouca. Meu carinho é pena. Meu dengo é cobrança. Minha saudade é prisão. Minha preocupação chatice. Minha insegurança problema meu. Meu amor é demais. Minha agressividade insuportavel. Meus elogios causam solidão. Minhas constatações boas matam o amor. As ruins matam todo o resto. Minhas palavras jogadas, mais ainda. Minhas opiniões sempre alongam e cansam. Minhas histórias acabam sempre no egocentrismo ou preconceito. Meu sem fim dá longo vontade de encurtar. Minha construção, descontrói. Meus convites quase nunca agradam. Meus pedidos sempre desagradam. Meus soquinhos e frases são jovens demais. Meu bombardeio de coisas sempre acaba em guerra. Minha paz que viria depois nunca chega, pois eu nunca chego. Minha voz doce assusta. Minha voz brincalhona é ridicula. Minha voz séria é alarde. Nenhum pio. Disse pra mim mesma. Falar do que sinto é , na hora, desintegrar-me com o olhar. Então fico me perguntando sobre o que deveria dizer, se só sei o que sinto. Devo sentir por personagens de livros, filmes, jornais e ruas? É assim que se diz sem ser o que não importa de verdade? E se for o contrário? Mas pra dizer do contrário, fica sempre no ar, é melhor não dizer. Se digo algo sobre minha vida, só sei falar de mim. Se digo algo da vida dele, coitada de mim, achando que sei alguma coisa da vida. Se falo sobre a vida dos outros, que papo furado é esse? Se falo sobre coisas me sinto uma delas. Se provoco, eu que provoque sozinha porque ele não é trouxa de cair. Sobre livros, nunca são o que interessam. Sobre minha reportagem, nem quis ler. Meu trabalho nunca foi e nunca será da mulher dos sonhos. Meus sonhos já evito falar, um medo de ser menina. Quieta. É assim que será. Se digo certo, isso logo acaba. Se digo certeiro, acabou. Se digo errado, nunca acaba. Se eu for mulher, mulher é um saco. Se eu for homem, homem só existe ele. Se eu for criança, fale com sua psicologa. Nenhum pio. Combinei comigo. Falar da gente pode? Pode, desde que, depois, eu tenha estrutura para ver toda uma massa desistente desabando no meu sofá branco. Nadinha. Não vou falar nada. Sobre dor não toca. Sobre prazer toca pouco. Nada. Porque toda vez que pergunto, quase ofende. E se respondo, ofende mais. E se exclamo, minha vontade de viver sufoca. E se são três pontinhos, não posso. Se começo preciso terminar. Mas quando termino, ele já não está mais. Se repito, quase explode. Se digo uma, sou boa de ser guardada em algum lugar que nunca vejo. Se não explico, pareço louca. Se explico, sou louca. Quieta. Isso! Você consegue! Se for o que eu penso, eu penso errado. Se for o que não penso, errei por não pensar. Se não for nada disso, eu que pensasse antes. Se estou animada, cuidado com a rasteira. Se estou desanimada, não tem mão pra me levantar. Nada. Não vou susurrar. Nem gemer. Nenhum som. Respiração muda. O silêncio absoluto. Olhando pra ele. Lembrando de quando ele me disse que é no silêncio que se sabe a verdade. E a verdade chega como um teto gigante que desaba numa cabecinha de vento. O que eu mais temia. O que eu não queria descobrir. Ele me diz. E o pior é que eu nem posso falar por ele. É tudo mentira.

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