domingo, 27 de novembro de 2011


Você chegou no meu mundo ao contrário. Me olhou bonito e entendeu o meu não-entender. De longe, Te sinto. Te sei.
Pior do que se sentir perdida é perder-se em si mesmo. No emaranhado do que você acredita misturado ao que você é ou era. O que você acredita, apostando corrida com o que você mais detesta. O que você tem, jogando palitinhos com o que você quer. Seu amor e suas dores na linha de chegada e o coração do juiz em dias de clássico.
Eu não sei se você entende o raciocínio de quem não tem raciocinado ultimamente ou se entende o porquê de certas coisas que não se explicam. Quando a cabeça não pensa o corpo padece. Mas quando a cabeça pensa demais será que nossa alma enriquece? Você cheio de indagações e de táticas que não fazem o menor sentido (pelo menos para você ou pelo menos naquele momento).
Suas certezas mudam, suas prioridades deixam de ser prioridades já que você nem sabe mais o que deseja. Até sabe, mas está tão longe e você tão cansado que o mais fácil é deixar que as prioridades te encontrem e você pode fugir do que não interessa. Seus princípios enfraquecidos te cobram uma atitude e você cobra coragem. Seus olhos pesam e seu coração já bate fraco. De tanto que bateu a vida inteira. De tanto chorar amor e fracassos. De tanto chorar pelo leite derramado você decide que se entender é complicado demais. O quente queima e o frio é gelado demais, vai o morno mesmo que não causa sensação alguma e no momento você não tem sequer condições de sentir algo. Sentir dá trabalho e trabalho acarreta uma série de responsabilidades. Responsabilidades é chato demais e não aquece seus pés nos dias frios.
Você enfim, opta por decidir somente pelo necessário. Pelo que realmente vai fazer alguma diferença em sua vida e desiste de tentar equilibrar-se, isso é para artista circense e você nem gosta tanto de circo. Melhor deixar assim.
Uma porta de saída e uma de entrada. O que vale fica e o que não vale valesse. Nada de culpa ou de noites mal dormidas, nada de coração na boca e de frio na barriga.
Certas coisas não se explicam. Não existem palavras que as descrevam ou soluções que as resolva. Sentimentos, gestos, sonhos e sorrisos. A alma entende e a boca cala.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Vazio

Sai de casa hoje. Fiquei sozinha por horas num andar inteiro vazio. Parece comigo. Eu tenho um andar inteiro vazio. Os meus cinquenta e oito andares estão vazios. Está tudo vazio. Eu queria avisar as pessoas que eu era a melhor instalação daquele prédio. Veio ver o vazio? Olha pra mim. Não tenho nada dentro de mim. Nada. Não tenho vontade nenhuma de não lutar por você, e tenho toda vontade do mundo de lutar por você mas não tenho força. Eu não tenho nada. Eu perambulo por aí, atendendo meus 78 mil amigos e odiando ver o nome de cada um deles no visor do meu celular. Todos divertidos, leves, incríveis, amigos. E eu cagando um mundo pra toda essa merda.
Aí no aniversário do meu primo estavam contando a história de uma professora que enlouqueceu e jogou umas fotografias do último andar. Ninguém entendeu nada. Mas eu acho que entendi ela. O vazio dá desespero, cara. Dá um desespero filho da puta.
Aquele tobogã da piscina.. que merda é aquela? Vontade de sentir alguma emoção. O vazio dá um desespero silencioso. É como se o tempo jogado no lixo batesse sutil, num relógio esquecido em algum canto do quarto, que você só descobre quando está muito de madrugada e ao longe você escuta aquele tic, tac, tic, tac. Uma batida que quase não existe. Você não sabe se é o tempo sendo contado pra você ou o seu coração contando você pro tempo. Um desespero sem cara de desespero mas que é desespero puro. A pior espécie dele.
Tinha três policiais na frente do prédio. A vida anda tão sem graça que até o nada corre risco de ser roubado. Até porra nenhuma precisa de vigília. E eles com aquela cara brava, fechada. Uma cara familiar pra mim. Da pessoa que protege o nada como se fosse a única coisa que ainda restou. Um egoísmo em dividir o nada e ver ele virando alguma coisa.
Ai que dor. Que dor. Que merda. Que lixo. O andar vazio tem cestos de lixos espalhados. A vida anda tão chata que nem o nada pode sujar. Eu queria ter gritado. Eu queria ter essa cara de pau. E ter berrado no meio do andar vazio. Um grito de nada. Pior é que eu berrei. Berrei com o pior tipo de desespero do mundo. Meu silêncio, meu conformismo, minha aceitação, minha quase maturidade. Eu tenho a impressão que a hora que eu chorar, vai ser o choro mais triste do mundo. Mais triste que aquelas crianças carentes pedindo no sinal. Mais triste do que o sol frio entrando pelo vazio. E aquela bandinha tocando. E o velhinho na cadeira de rodas tomando sorvete. Mais triste que os gringos tirando fotos. No vazio cabe um monte de coisa, mas nenhuma se encaixa. Todas deslizam pelo rio de lagrimas que inundam os meus andares vazios. A hora que eu chorar vai ser o choro mais triste do mundo.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Lá estou eu em mais uma noite mal terminada, risos pela metade, abraços estranhos. Olho pro lado e sinto uma saudade imensa, doída, desesperançada e até cínica. Saudade de alguma coisa ou de alguém, não sei. Talvez de mim, do útero da minha mãe, do meu anjo da guarda, do meu pai, de uma cena perfeita que meu inconsciente formou na infância e que eu me encarreguei de acreditar como sendo meu futuro. Meus amigos me adoram e talvez chorariam se eu morresse. Mas será que eles sabem que eu penso sempre na morte? Será que eles sabem que aquela garota que tá ali no canto da mesa, de decote, rindo pra caramba, contando mais uma de suas aventuras vazias e descartáveis, acorda todos os diaas pensando: o que eu realmente quero com essa vida? Como eu faço pra ser feliz? Será que eles sabem que se estou morrendo de rir agora, daqui a pouco vou morrer de chorar? E isso mesmo com remedio, mesmo com macumba, mesmo com espiritismo, mesmo com meu amor sempre do meu lado. Será que eles sabem o tanto que eu sofro e o tanto que eu não sofro a cada segundo? Minha melhor amiga me ama, mas ela adora que eu seja o erro em pessoa só pra ela se sentir o acerto em pessoa. Meu melhor amigo me ama, muito, mas se pudesse de verdade, ele transaria comigo a noite inteira. Meu outro amigo me chamou de infeliz um dia e eu nunca mais consegui rir da infelicidade dele. Meus amigos me amam, muito, mas nem o máximo de amor de uma pessoa chega perto do que deveria ser amor. Amor não significa mais amor. E eu, mais uma vez, olho para o lado morrendo de saudade dessa coisa que eu não sei o que é. Ter alguém comigo pra confiar. Sinto um nojo enorme e desesperador de todos os afetos em pílulas que posso ganhar. Odeio todas as minhas pílulas, odeio todos os amores baratos, curtos e não amores que eu inventei só pra pular os dias sem dor. A cada semana sem dor que pulo, pareço acumular uma vida de dor. Preciso parar. Mas a solidão dói e eu sigo inventando personagens. Odeio minha fraqueza em me enganar e mais ainda a dor que vem depois dos dias entorpecidos. Eu invento o amor das pessoas por mim sim, e dói admitir isso. Mas é que eu não aguento mais não dar um rosto pra minha saudade. E não aguento os copos, as fumaças, as pessoas descartaveis, as intenções.. É tudo pela metade. Ao menos minha fantasia da confiança é por inteiro. Enquanto dura. No final bruto, seco e silencioso da melhor festa do mundo que nem começou, é sempre isso mesmo. E eu aqui comendo meus cookies na frente dessa merda de pc, ouvindo música triste meio querendo chorar, meio querendo mentir sobre a vida até acreditar. Aí limpo o rosto e percebo que não faz o menor sentido ser uma criança chorona preocupada. Aí eu me acho louca. E aí eu deito pra dormir e penso em mil coisas. E eu rezo a Deus que não espere mais eu ser legal para ser legal comigo, porque eu to esperando ele ser legal comigo para ser legal. Aí eu penso que ele já é legal comigo e que talvez, eu ja seja legal com ele. E que tá tudo bem. Mas se eu penso que tá tudo bem nesse segundo, isso só significa que vou pensar o oposto no segundo seguinte. E que escrevi 'ele' sem maiúscula mesmo, porque amigo íntimo a gente não fica com essa coisa de endeusar. E eu queria que ELE fosse meu amigo íntimo. E quando vou ver, já dormir. Sozinha.