segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Louca

Uma vez, no recreio, comendo um Bis derretido, pensei isso, pela primeira vez: e se eu ficasse louca? Vi minhas amigas trocando papéis de cartas, vi uns meninos correndo de testa suada, vi uma professora caminhar como alguém que pensava em alguém que ela encontraria no final do dia, vi tudo isso como se não pudesse ter, ver, ser.E se eu ficasse louca.Que triste para meus pais, que triste para a carteira vazia da escola, que triste para os livros plastificados com a etiqueta que dizia que era eu. Uma estudante, uma garotinha, com família, amigos, presilhas de cabelo, camisas brancas PP com um brasão que trazia um livro e um fogo. Se eu ficasse louca tudo isso seria o quê? Pra onde iriam os materiais e as pessoas e o amor? E se eu ficasse louca? Quem iria me ver babar num canto de um hospital? Existe louco em casa? Mãe ama os loucos? Louco tem amigo? Louco tem livro plastificado? Louco começa e não para mais até acabar?Louco uma vez, louca pra sempre? Converse. Respire. Pense em garotos. Pense em xampus. Vamos. Não fique louca. Mude de assunto. Pense na menina mais bonita do mundo e odeie. Dê nome pra loucura que ela deixa de ser. Sinta dor com nome que assusta menos. Caia na aula de educação física, rale o joelho, sangre, dói menos. Desembarace os cabelos e sinta que problemas se alisam. Faça o papel do Bis virar um barquinho. Isso. Conte uma piada. Se os outros rirem bastante. Se a sua estranheza puder ser amada. Qualquer coisa menos loucura. Pense naquela música da rádio. Não, você não está triste. Uma fofoca e pessoas em volta. Vá até o banheiro retocar o batom da moranguinho. O professor mais ou menos bonito, por ele. Os outros. Olhe. Os outros. Vamos. Que data mesmo? Da guerra. Que data? Qualquer coisa. Menos louca. O hino. Sujou um pouquinho da meia. Limpinha. Dê nome aos problemas. Problemas com nomes são problemas e não loucuras. Sempre evitando que ela saia. Sempre segurandoNão caia dura no meio do mundo. Não se chacoalhe no meio do pátio. Não vomite só porque sei lá o que é isso impossível de digerir e nem quero saber. Não abrace sem fim porque é preciso sentir o vento com o peito sozinho. Terrível mas tem banho quente pra distrair. Não espanque, não soque, não chore sangue, não arranque a língua, não grite, não acabe. Siga. Sorria. Mais uma prova. Mais uma festa. Mais um garoto. Sempre um pavor escondido mas nem era nada disso. Sempre uma tristeza abafada mas nem era nada disso. Sempre uma alegria exagerada que ninguém acolhe e o silêncio depois, fazendo curativos na pureza criando cascas. Um dia você será. O quê? Normal. Um dia você será. Normal. Um dia. Enquanto isso, se distraia como a professora que ama, as crianças que trocam papéis de cartas, os garotos que correm. Eles estão se distraindo também e pensando "olha, uma menina comendo Bis".

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Eu não sei voar.

Ele pisou enorme no meu meio sorriso, fazendo ele virar um pavor inteiro e verdadeiro. Eu canso dos meus meio sorrisos tanto, tanto , que prefiro que a vida seja assim mesmo.E aí me pergunto se chorei de tristeza profunda ou alegria libertadora, o que acaba dando no mesmo porque minha profundidade me liberta.
Eu pude chorar todos os meus medos no meu sofá e eu pude ficar curvada do jeito que a minha sombra, que só eu vejo, é. E eu pude berrar todos os meus disfarces e ficar feia sem culpa, porque a dor consegue ser sempre maior do que qualquer culpa, por isso o meu vicio em sofrer.
Eu chorei a nossa imperfeição, eu chorei a saudade enganada da nossa perfeição, eu chorei a nossa necessidade de não se largar, a nossa necessidade de fugir do mundo em nós e a nossa necessidade de fugir de nós encontrando amigos.
Eu chorei o nosso ego que sempre tem resposta para tudo e não pode perder, chorei o nosso silêncio cansado de perguntas, a pobreza do mundo que nos impossibilita de sermos felizes sem culpa, a falta de simplicidade que eu tenho para ser feliz e eu chorei o espaço da nossa alma que ainda falta evoluir. Eu chorei o nosso medo de não sermos o que sonhamos. Eu chorei o medo que eu tenho de não ser quem você quer e o medo que eu tenho de ser exatamente o que você quer. Eu chorei porque precisava de colo, porque precisava te mostrar minha fragilidade escondida no meu mau-humor. Eu chorei de birra do meu lado homem.
Eu chorei porque eu te amo mas as vezes não sei como amar. Eu chorei porque tudo sempre cansa de mim. Chorei de cansaço profundo de tudo sempre cansar de mim. Chorei de apego ao cheiro do teu perfume novo e principalmente de melancolia pelo cheiro do velho. E chorei porque tudo envelhece com novos cheiros e a vida nunca volta. Eu chorei de pavor da rotina, de pavor do fim.
Eu chorei meu medo de submissão, o meu medo de vomitar , o meu medod e me mostrar pra voce tanto, tanto, e não ter mais o que mostrar. Eu chorei minha infinidade de coisas e o medo de você não querer abrir os mais de um milhão de baús que existem escondidos na caixa cerrada que eu guardo embaixo do meu peito. Eu chorei meu fim e o medo do meu infinito. E eu teria chorado cinco anos se você não me dissesse que já era hora de parar. E eu chorei escondida, porque eu não sei a hora de parar e não quero que ninguém me diga. Aliás, eu quero sim. Eu quero que você me diga quando for a hora de parar, de continuar e de não pensar em nada disso.
Eu quero que você me acorde com uma lista de horas e outras listas de anos e outra lista de encarnações. Eu quero que você me dê a mão e me ensine o que é um relacionamento porque eu só sei andar de quatro, eu sou criança, eu não sei o que fazer. Eu quero que você me ensine a ser uma mulher pra você. Eu não sei ser leve, eu não sei voar, mas a barata que voou para o canto do meu quarto, sabe.
Eu carrego o esgoto no meu vente negro, mas não sei voar como ela. Por isso ela ainda consegue ser melhor do que eu. E com todos os meus poderes para estragar a vida de alguém, eu ainda tenho medo de barata. Porque ela sabe ser misteriosa, ela sabe incomodar sem abrir a boca, ela sabe enojar o mundo com sua meleca branca sem ter que mostra-la a ninguem. Ela é muito mais misteriosa que eu. Em comum temos as chineladas do mundo e todos os seres amedrontados que querem acabar com a nossa raça. Mas o poder dela ainda é muito maior que o meu. porque ela não ama, ela não sente tristeza porque alguém quer lhe dar uma chinelada. Ela não se sente traida pelas chineladas do mundo.
Ela não sabe o que é não entender nada desse mundo e ter medo do tempo. Ela não sabe o que é ter nas mãos o poder de construir e destruir e ter tanto medo desse poder. Ela vive no esgoto e não sabe o que é ter tanto medo dele. Ela é uma barata e nunca vai saber o medo que a gente sente de sentir uma. E eu chorei tanto que finalmente transformei meu meio canto de boca num bico inteiro. Eu chorei porque justamente descobri que viver na cabeça também é um tipo de coragem, porque eu não protejo a alma de feridas e nem de descanso. Mas aí ela, preta, imunda, nojenta, indesejada, um pedaço do esgoto, vôa em minha direção e me coloca em movimento. E eu corro pra bem longe e não penso, só corro. E isso é tão diferente para mim, estar em movimento de fora para dentro, que eu choro de emoção.
Eu não pensei, eu vivi. Eu corri dela, eu vivi o medo. Eu vivi o nojo. E eu chorei de dor de sair da minha bolha interna. Ela me fez ter vontade de gritar para o mundo nojento para que ele deixe meu coração em paz. Meu coração que quer amar em paz e esquecer que a vida pode ser nojenta. E eu corri de tudo o que é nojento, e eu chorei porque com tantas coisas lindas me acontecendo, eu precisei de uma barata para me lembrar de sentir a vida fora da minha bolha.
E eu precisei de uma barata pra perceber que as coisas podem dar certo sim, que existem momentos ruins em meio dos bons.

domingo, 16 de outubro de 2011

Uma breve apresentação da minha pessoa para o ano que vai chegar.

Eu tenho medo bobo e coragens absurdas. Eu vivo cercada de pessoas por fora da minha bolha egocêntrica, infantil e sensível.
Eu preciso de sal e açúcar para não virar os olhos de pressão baixa e hipoglicemia, já tive ptíriase aliquenóide crônica e tenho prolapso de válvula mitral.
Eu quase nunca sei se uma palavra começa com e ou com i. Escrevo por três motivos simples: preciso aparecer e não sou bonita o suficiente, preciso matar o tempo e preciso não morrer.
Sou fútil, entro em pânico pela moda, mas meto um chinelinho pra parecer desencanada. Sou romântica, entro em pânico por não ser amada, mas quando sou fico nervosa. Vai entender.
Eu vivo à espera daquele momento, mas não sei que porra de momento é esse.
Às vezes sinto cheiros e morro de saudades de coisas que já não me lembro mais.
Eu me orgulho de todas as minhas lembranças ingênuas, mas tenho consciência de que foi a minha fragilidade cansada que me transformou numa pessoa irônica.
Eu tenho uma risada escandalosa que me envergonha e uma mania ridícula de imitar a Madonna. Às vezes eu só queria estar deitada com meu diário, olhando as estrelas. Só.
Passo metade do dia odiando todo mundo e querendo ser sugada pela minha própria insignificância. A outra metade passo rindo do quanto sou dramática e exagerada.
Eu sei de cor tudo o que tenho que fazer para dar certo, mas tenho medo da responsabilidade de ser notada.
Adoro o toque do telefone que quebra o barulho do abandono, a força leve da caneta no papel que pode transformar tantas coisas e o som do carro chegando na chuva para me salvar. Eu adoro ouvir música bem alta, do som da agulha no disco e do resto do Sol que entra pela janela me trazendo calmaria por pertencer a algo e faniquito por não pertencer a tudo. Mas eu tenho apenas 96% da audição.
Ás vezes, eu gosto apenas da folha em branco, do silêncio, da noite e da janela fechada, de preferencia todos juntos.
Adoro o som de crianças num parquinho, adoro o colorido do arco-iris.
Acho tudo que se refere ao amor extremamente brega. Acho tudo o que não se refere ao amor extremamente infeliz.
Não sou lésbica mas adoro as mulheres, seus cheiros, cabelos, cinturas e mil faces pra disfarçar o obvio.
Tenho crises de pânico mas nunca tomei remédio nenhum, acho normal que às vezes o ar se despeça do meu mundinho fechado e me faça vagar pela falta de pressão do universo. Minha mão fica tão gelada e meu coração tão quente que eu pareço um petit-gateau.
Tenho medo de vomitar e não parar nunca mais de vomitar. De bater a cabeça desmaiada na pia e morrer solitariamente, entregando ao mundo por impotência minhas vísceras magoadas e sujas.
Eu tenho vontade de pisar na grama cheia de insetos que pinicam, de corroer minhas neuroses no ácido do meu fígado, de dormir melada de amor. Mas sou mais viciada em banhos do que qualquer outra coisa.
Adoro o papo furado de 'à luz de velas', adoro a ansiedade e ilusão de princesa. Mas também adoro um DVD de pijamão com minha gatinha e todas minhas guloseimas no armário da cozinha.
Eu corria atras o tempo todo, mas acabava dando de cara com minha bunda e odiava minha bunda. Agora amo minha bunda.
A maior alegria pra mim é colocar a música ''this fire'' do Franz Ferdinand e berrar, até porque depois de berrar eu fico rouca e amo voz rouca.
A última vez que fui meiga falei: não ta vendo que sou meiga, porra!
É isso, não vou falar do Barack, não vou falar da Dilma, não vou falar do beijo de sangue do filme Os sonhadores. Não vou falar de nada que não seja meu umbigo. Sou essa mala monotemática mesmo, chata, obsessiva, mas que ama muito mais do que odeia, apesar de odiar isso.
Feliz tudo pra todos vocês.
Eu não espero que você seja o grande amor da minha vida, eu quero que você queira ser o grande amor da minha vida. Parei de acreditar um pouco nisso na quinta séria quando a moça que trabalhava na minha escola disse que estava se separando do marido dela. E também depois que meus pais se separaram e a gente tinha que conviver com choro, mãe no banheiro jogada e cheiro de fumaça de cigarro pela casa. A moça da biblioteca chorou. Não quero que você me faça chorar. Não quero que você seja motivo ruim na minha vida. Você é motivo de sorrisos, razão pra eu acordar num dia de chuva e tomar banho e mudar de roupa porque eu sei que vamos nos ver, vamos comprar milhões de besteiras pra comer enquanto falamos bobagens. Não quero te odiar, não quero falar mal de você pros outros. Pras minhas amigas. Quero falar mal de você como quem ama. Pois é, Raissa, ele nunca lembra de desligar o celular antes de entrar no cinema e sempre alguém liga. Sabe, eu quero dizer isso. Que o máximo de irritação que você me provoca é me acordar de manhã cedo ligando e falando bobagens que parecem ser importantes no celular. Não quero que você me largue, não quero te largar. Não quero ter motivos pra ir embora, pra te deixar falando sozinho, pra bater o telefone na sua cara. E eu não tenho medo que isso aconteça (ou tenho e não admito). É só que dessa vez eu quero muito que seja diferente. Dessa vez, com você, eu quero que dê certo. Que eu não te largue no altar, que eu não te veja com outra, que eu não tenha raiva, que você não parasse de comer cinco pedaços de pizza, que você entendesse meu problema com comida apimentada ou frutos do mar pra sempre, que você goste e cuide de mim como disse ontem a noite que cuidará. Eu quero que dê certo, não vamos estragar, por favor. Não vamos estragar, não vamos estragar. Posso pôr uma foto minha na sua carteira? Mesmo que a gente não fique juntos pra sempre, mesmo que acabe semana que vem. Nunca destrua o meu carinho por você, nunca esfrie o calorzinho que aparece dentro de mim quando você liga, sorri ou fica me olhando no elevador. Mesmo que você apareça na porta de outras mulheres depois de me deixar. Me deixe um dia, se quiser. Mas me deixe te amando. É só o que eu peço.