terça-feira, 15 de novembro de 2011

Vazio

Sai de casa hoje. Fiquei sozinha por horas num andar inteiro vazio. Parece comigo. Eu tenho um andar inteiro vazio. Os meus cinquenta e oito andares estão vazios. Está tudo vazio. Eu queria avisar as pessoas que eu era a melhor instalação daquele prédio. Veio ver o vazio? Olha pra mim. Não tenho nada dentro de mim. Nada. Não tenho vontade nenhuma de não lutar por você, e tenho toda vontade do mundo de lutar por você mas não tenho força. Eu não tenho nada. Eu perambulo por aí, atendendo meus 78 mil amigos e odiando ver o nome de cada um deles no visor do meu celular. Todos divertidos, leves, incríveis, amigos. E eu cagando um mundo pra toda essa merda.
Aí no aniversário do meu primo estavam contando a história de uma professora que enlouqueceu e jogou umas fotografias do último andar. Ninguém entendeu nada. Mas eu acho que entendi ela. O vazio dá desespero, cara. Dá um desespero filho da puta.
Aquele tobogã da piscina.. que merda é aquela? Vontade de sentir alguma emoção. O vazio dá um desespero silencioso. É como se o tempo jogado no lixo batesse sutil, num relógio esquecido em algum canto do quarto, que você só descobre quando está muito de madrugada e ao longe você escuta aquele tic, tac, tic, tac. Uma batida que quase não existe. Você não sabe se é o tempo sendo contado pra você ou o seu coração contando você pro tempo. Um desespero sem cara de desespero mas que é desespero puro. A pior espécie dele.
Tinha três policiais na frente do prédio. A vida anda tão sem graça que até o nada corre risco de ser roubado. Até porra nenhuma precisa de vigília. E eles com aquela cara brava, fechada. Uma cara familiar pra mim. Da pessoa que protege o nada como se fosse a única coisa que ainda restou. Um egoísmo em dividir o nada e ver ele virando alguma coisa.
Ai que dor. Que dor. Que merda. Que lixo. O andar vazio tem cestos de lixos espalhados. A vida anda tão chata que nem o nada pode sujar. Eu queria ter gritado. Eu queria ter essa cara de pau. E ter berrado no meio do andar vazio. Um grito de nada. Pior é que eu berrei. Berrei com o pior tipo de desespero do mundo. Meu silêncio, meu conformismo, minha aceitação, minha quase maturidade. Eu tenho a impressão que a hora que eu chorar, vai ser o choro mais triste do mundo. Mais triste que aquelas crianças carentes pedindo no sinal. Mais triste do que o sol frio entrando pelo vazio. E aquela bandinha tocando. E o velhinho na cadeira de rodas tomando sorvete. Mais triste que os gringos tirando fotos. No vazio cabe um monte de coisa, mas nenhuma se encaixa. Todas deslizam pelo rio de lagrimas que inundam os meus andares vazios. A hora que eu chorar vai ser o choro mais triste do mundo.

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