sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Eu não sei voar.

Ele pisou enorme no meu meio sorriso, fazendo ele virar um pavor inteiro e verdadeiro. Eu canso dos meus meio sorrisos tanto, tanto , que prefiro que a vida seja assim mesmo.E aí me pergunto se chorei de tristeza profunda ou alegria libertadora, o que acaba dando no mesmo porque minha profundidade me liberta.
Eu pude chorar todos os meus medos no meu sofá e eu pude ficar curvada do jeito que a minha sombra, que só eu vejo, é. E eu pude berrar todos os meus disfarces e ficar feia sem culpa, porque a dor consegue ser sempre maior do que qualquer culpa, por isso o meu vicio em sofrer.
Eu chorei a nossa imperfeição, eu chorei a saudade enganada da nossa perfeição, eu chorei a nossa necessidade de não se largar, a nossa necessidade de fugir do mundo em nós e a nossa necessidade de fugir de nós encontrando amigos.
Eu chorei o nosso ego que sempre tem resposta para tudo e não pode perder, chorei o nosso silêncio cansado de perguntas, a pobreza do mundo que nos impossibilita de sermos felizes sem culpa, a falta de simplicidade que eu tenho para ser feliz e eu chorei o espaço da nossa alma que ainda falta evoluir. Eu chorei o nosso medo de não sermos o que sonhamos. Eu chorei o medo que eu tenho de não ser quem você quer e o medo que eu tenho de ser exatamente o que você quer. Eu chorei porque precisava de colo, porque precisava te mostrar minha fragilidade escondida no meu mau-humor. Eu chorei de birra do meu lado homem.
Eu chorei porque eu te amo mas as vezes não sei como amar. Eu chorei porque tudo sempre cansa de mim. Chorei de cansaço profundo de tudo sempre cansar de mim. Chorei de apego ao cheiro do teu perfume novo e principalmente de melancolia pelo cheiro do velho. E chorei porque tudo envelhece com novos cheiros e a vida nunca volta. Eu chorei de pavor da rotina, de pavor do fim.
Eu chorei meu medo de submissão, o meu medo de vomitar , o meu medod e me mostrar pra voce tanto, tanto, e não ter mais o que mostrar. Eu chorei minha infinidade de coisas e o medo de você não querer abrir os mais de um milhão de baús que existem escondidos na caixa cerrada que eu guardo embaixo do meu peito. Eu chorei meu fim e o medo do meu infinito. E eu teria chorado cinco anos se você não me dissesse que já era hora de parar. E eu chorei escondida, porque eu não sei a hora de parar e não quero que ninguém me diga. Aliás, eu quero sim. Eu quero que você me diga quando for a hora de parar, de continuar e de não pensar em nada disso.
Eu quero que você me acorde com uma lista de horas e outras listas de anos e outra lista de encarnações. Eu quero que você me dê a mão e me ensine o que é um relacionamento porque eu só sei andar de quatro, eu sou criança, eu não sei o que fazer. Eu quero que você me ensine a ser uma mulher pra você. Eu não sei ser leve, eu não sei voar, mas a barata que voou para o canto do meu quarto, sabe.
Eu carrego o esgoto no meu vente negro, mas não sei voar como ela. Por isso ela ainda consegue ser melhor do que eu. E com todos os meus poderes para estragar a vida de alguém, eu ainda tenho medo de barata. Porque ela sabe ser misteriosa, ela sabe incomodar sem abrir a boca, ela sabe enojar o mundo com sua meleca branca sem ter que mostra-la a ninguem. Ela é muito mais misteriosa que eu. Em comum temos as chineladas do mundo e todos os seres amedrontados que querem acabar com a nossa raça. Mas o poder dela ainda é muito maior que o meu. porque ela não ama, ela não sente tristeza porque alguém quer lhe dar uma chinelada. Ela não se sente traida pelas chineladas do mundo.
Ela não sabe o que é não entender nada desse mundo e ter medo do tempo. Ela não sabe o que é ter nas mãos o poder de construir e destruir e ter tanto medo desse poder. Ela vive no esgoto e não sabe o que é ter tanto medo dele. Ela é uma barata e nunca vai saber o medo que a gente sente de sentir uma. E eu chorei tanto que finalmente transformei meu meio canto de boca num bico inteiro. Eu chorei porque justamente descobri que viver na cabeça também é um tipo de coragem, porque eu não protejo a alma de feridas e nem de descanso. Mas aí ela, preta, imunda, nojenta, indesejada, um pedaço do esgoto, vôa em minha direção e me coloca em movimento. E eu corro pra bem longe e não penso, só corro. E isso é tão diferente para mim, estar em movimento de fora para dentro, que eu choro de emoção.
Eu não pensei, eu vivi. Eu corri dela, eu vivi o medo. Eu vivi o nojo. E eu chorei de dor de sair da minha bolha interna. Ela me fez ter vontade de gritar para o mundo nojento para que ele deixe meu coração em paz. Meu coração que quer amar em paz e esquecer que a vida pode ser nojenta. E eu corri de tudo o que é nojento, e eu chorei porque com tantas coisas lindas me acontecendo, eu precisei de uma barata para me lembrar de sentir a vida fora da minha bolha.
E eu precisei de uma barata pra perceber que as coisas podem dar certo sim, que existem momentos ruins em meio dos bons.

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