sexta-feira, 3 de junho de 2011

Serralheria, pó.

Eu sabia que isso mais cedo ou mais tarde viria. Vem sempre depois do tô otima, melhor que nunca. Vem sempre depois do tô aliviada, melhor assim. E então, quando abafa o grito alegre, abaixa tudo de bom que sou, recolhe a corrida pelo nem é comigo, chega essa notícia insuportável me lembrando que ficamos pra trás. Deixar a dor vir é como receber o jornal de amanhã com noticias velhas. Essa vontade de ir até uma serralheira de bairro com cortantes apodrecidos, e pedir: serra eu até eu ficar como ele quer? Tem como me fazer do tamanho que não afasta? Tem como me fazer na medida do que encaixa eternamente? Tem como me fazer sem isso dentro, essa coisa que é a única mas que eu, hoje, por causa dessa atração repentina pela anulação, ou sei lá o quê, não quero mais. Posso abrir mão disso que me mantém viva ou pelo menos me trouxe até aqui? Essa coisa mais forte que tudo e que me diz ''se eu não obedecer, nem sobra força de amor pra amar, então que acabe''. Tem como tirar essa minha força motriz, ego desgraçado, sopro de mim mesma me empurrando, o que me fez não sucumbir, o que me nina ainda que seja uma babá malvada, o que me acolhe ainda que seja a bruxa mais terrível...
Tem como eu me cortar inteira pra montar de um jeito que eu jamais me incomode com esse muito desenfreado que você sente pra de repente não sentir mais nada, nem dúvida? Tem como assoviar e andar feliz mesmo sabendo que você corre antes de esgotar, porque tampouco aí dentro? Ué, mas não era muito mais que tudo? É infinito ou tão pouquinho que você usa tudo de uma vez pra parecer alguém especial? Tem como sobreviver vendo um espelho tão escancarado e que ao mesmo tempo me deforma? Tem como me fazer nascer de novo, de um jeito que eu só queira você e não o que eu sonho com você?
Porque agora, de longe, parece tão fácil. Agora, de longo, se desse pra te ter por minutos. Nossa, eu seria tão feliz. Na semana passada, gritava dentro de mim, se não fosse pra sempre, se não fossem mil minutos, se não fossem os meus minutos, que eu focasse então em tudo de ruim pra me livrar logo do pouco que ofende ou do egoismo que bate de frente. Compartilho com você, e nem sei como amadureci tão rapido, da certeza da impossibilidade. Mas sinto sozinha o quanto isso me faz amar você ainda mais. Porque se desse, se eu pudesse, se desse mesmo pra te amar, seria amor e ponto final. Não seria essa coisa que a gente mais uma e pela ultima vez compartilhando algo, achamos que é amor.
Se existisse no mundo, como suas regras terriveis, uma brecha pra roubar no jogo, se existisse um único vão por onde se escapar do óbvio, se desse mesmo pra passar correndo atrás de Deus e pular no abismo do que queremos porque queremos. Eu escolheria você,se me dessem um último pedido, eu escolheria você. Se a vida acabasse hoje ou daqui mil anos, eu escolheria você. Eu só não consigo, vejam como essa vida é mesmo uma coisa de deixar qualquer um louco, eu só não consigo escolher você da maneira mais fácil e particular, que é tendo você. Que é sendo você.
Mas se eu virar, se eu virasse, esse pó de serra, se eu virasse argila, se eu pudesse ser esculpida por você, o que você faria de mim? Eu queria calar ou matar essa coisa toda que sou e tudo e colar ao meu modo, nesses mil anos, pra agora, assim, sem eu nem saber. Me assoprar por você. Entende? Porque eu te juro, de todas as coisas do mundo, eu só queria olhar pra você. Ainda diz isso sem parar, pra só te ver ou ser pra você. Mas se você soubesse, como foi duro, resgatar que andar cega me deixe daquele jeito e ainda que você jamais vá guiar alguém na escuridão. Seu medo de andar no escuro ou ser necessário. E então vem a merda toda. Eu preciso correr pra ficar em pé,e então corro, e de pé estou. E de pé, agora, olhando tudo. Também não era isso.

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